O câncer de mama é aquele que mais acomete mulheres brasileiras. É por esse motivo — e também por ser um tipo de doença que, se descoberta no início tem altíssimas chances de serem curadas — que existe um mês dedicado inteiramente à conscientização da prevenção e diagnóstico precoce da doença. 

Além da prevenção e da saúde da mulher, a sexualidade feminina durante o tratamento precisa ser debatida, porque muitas mulheres que passam por esse problema não sabem como lidar com as mudanças físicas e psicológicas, e acreditam que sua vida sexual terminou.

No texto de hoje, vou falar sobre a importância das relações sexuais durante e depois do tratamento de câncer de mama e dar algumas dicas que podem ajudar nesse período. Vamos lá?

Tópicos que serão abordados neste texto:

  • O que é o Outubro Rosa?
  • Objetivo;
  • O que é o câncer de mama;
  • Tabu sobre sexo e câncer;
  • Efeitos colaterais do câncer de mama;
  • Sexo e autoimagem;
  • Abandono;
  • Dicas para melhorar a sexualidade no tratamento para câncer de mama;
  • Conselhos adicionais;
  • Peça ajuda.

O que é o Outubro Rosa?

Em resumo, o Outubro Rosa é uma campanha de conscientização que tem como objetivo principal alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.

Essa campanha acontece com mais intensidade no mês de outubro. Para você não ficar perdida, deixa eu te contar que o movimento surgiu em 1990, quando aconteceu a primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova Iorque; e desde então, é promovida anualmente na cidade.

Entretanto, somente em 1997 é que entidades das cidades de Yuba e Lodi, também nos Estados Unidos, começaram a promover atividades voltadas ao diagnóstico e prevenção da doença, escolhendo o mês de outubro como epicentro das ações.

Atualmente, o Outubro rosa é realizado em vários lugares do mundo.

Outubro Rosa no Brasil

No Brasil, as campanhas de conscientização sobre o câncer de mama acontecem desde 2002.

Na ocasião, um grupo de mulheres, em conjunto com uma marca de cosméticos europeia, decorou com luzes cor-de-rosa o Obelisco do Ibirapuera, que fica na cidade de São Paulo.

O Instituto Nacional de Câncer começou a participar da campanha em 2010, com a promoção de espaços de discussão e conscientização sobre a doença.

Logo depois, no ano seguinte, a prevenção sobre o câncer do colo do útero também foi incluída nas ações de diversos estados.

A publicidade, também, adotou o tom de rosa como motivador de campanhas no período, e ações em mídias sociais também tendem a ser reforçadas durante este mês.

Objetivo

A finalidade do outubro rosa +é compartilhar informações sobre o câncer de mama e, mais recentemente, câncer do colo do útero. Mas, também tem como objetivo incentivar que as mulheres adotem medidas de prevenção o quanto antes, pois assim elas terão mais chances de cura.

A divulgação possibilita maior acesso aos serviços de diagnóstico e contribui para a redução da mortalidade.

Além disso, o nome da campanha remete à cor do laço que é um símbolo internacional usado por indivíduos, empresas e organizações na luta e prevenção do câncer de mama.

É por esse motivo inclusive que, durante esse mês, a cor rosa ilumina a fachada de diversas instituições públicas e privadas, com objetivo de promover e indicar a adesão ao movimento.

Instituições públicas e privadas aderem à campanha e iluminam suas fachadas com a luz cor de rosa. 

O que é o câncer de mama?

O câncer de mama é resultado de uma multiplicação de células anormais na mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos.

Por isso, quanto mais cedo o diagnóstico, mais chances de cura. Caso descoberto no início, há 95% de probabilidade de recuperação total.

Segundo dados do Inca, o câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, respondendo por cerca de 25% dos casos novos a cada ano.

Além de tudo, o câncer de mama também acomete homens, mas representa apenas 1% do total de casos da doença.

É o tipo que mais provoca a morte de mulheres no Brasil. A estimativa é de 60 mil novos casos por ano em mulheres cada vez mais jovens.

Tabu sobre sexo e câncer

Antes de mais nada, um dos novos pontos abordados pela campanha do outubro rosa diz respeito à sexualidade das mulheres que têm a doença.

Falar abertamente sobre sexo já é um tabu, agora imagine só falar sobre a vida sexual das mulheres que têm câncer de mama?

Nos Estados Unidos, o tema já é amplamente debatido e foi criado até mesmo um termo específico para essa discussão – “oncosexology” (oncosexologia, em tradução livre), que trata a sexualidade dos pacientes com câncer. Inclusive nesse mesmo outubro rosa.

No Brasil, a pauta não é muito discutida ainda.

Como resultado, o sexo não é coberto em treinamento, e muitos médicos se sentem desconfortáveis ​​ao falar sobre isso. Eles não sabem o que recomendar ou não pensam que a paciente estará interessada em sexo após o tratamento, especialmente se for mais velha.

Isso é um grande erro!

A maioria dos profissionais não costumam perguntar sobre a vida sexual; e os pacientes geralmente não discutem a vida amorosa com um médico que não a mencionou. Ou seja, ninguém está falando sobre isso.

Muitas mulheres não são informadas sobre o impacto que o câncer de mama e seu tratamento pode ter em suas vidas sexuais, deixando-as sofrer em silêncio, elas sabem que têm um problema, mas não sabem a quem pedir ajuda. Por isso é tão importante o outubro rosa.

É necessário que todos os diagnosticados com câncer de mama tenham a oportunidade de falar sobre sexo, intimidade e imagem corporal alterada para obter o apoio de que precisam. 

Efeitos colaterais do câncer de mama

Os tratamentos para câncer de mama resultam em vários efeitos colaterais sexuais. No entanto, esses sintomas não são universais.

Em resumo, o tipo, a dosagem e a duração dos medicamentos podem determinar se uma mulher vai sofrer com os efeitos e quais os tipos.

Assim sendo, os mais comuns incluem:

  • Dor;
  • Dormência ou hipersensibilidade da área mamária (devido à cirurgia);
  • Queimaduras por radiação e alterações na textura e cor dos tecidos mamários (devido à radiação);
  • Dor vaginal;
  • Secura;
  • Irritação;
  • Queimação e atrofia vaginal (devido à quimioterapia e terapia endócrina).

Fadiga

A fadiga é um cansaço extremo que não desaparece com o repouso ou o sono. É um efeito colateral comum do tratamento do câncer, e que pode piorar à medida que o tratamento avança e pode continuar após o término do tratamento.

Os tratamentos com maior probabilidade de causar fadiga são a quimioterapia e a radioterapia, embora as cirurgias e terapias hormonais também possam afetar os níveis de energia.

Caso a mulher estiver se sentindo cansada, pode não querer fazer sexo ou pode ter um papel menos ativo. Por isso, é importante estar ciente dos seus limites atuais e não se esforçar demais, viu?

Isso porque o cansaço diminuirá gradualmente ao longo do tempo e a paciente terá mais energia para o sexo.

Sintomas da menopausa

Os sintomas da menopausa podem ocorrer como resultado de tratamentos de câncer de mama.

Nesse ínterim, eles podem ser temporários ou permanentes e incluem:

  • Ondas de calor;
  • Suor noturno;
  • Secura vaginal.

Eles podem resultar em menos sensação durante a excitação, o que significa que a mulher pode não ter orgasmo, ter dificuldade em atingi-lo ou ainda sua intensidade pode ser reduzida.

Além disso, as mulheres podem se sentir cansadas demais para ter interesse em sexo, talvez como resultado de sintomas, como suores noturnos.

Olha, as mais jovens em tratamento de câncer de mama podem apresentar sintomas da menopausa que são inicialmente mais intensos do que os da menopausa natural.

Enfim, ter esses sintomas pode fazer com que elas se sintam mais velhas do que são, o que pode afetar negativamente o desempenho e a autoestima sexual.

Mudanças na maneira como você experimenta o orgasmo

Os efeitos do câncer de mama e seus tratamentos podem afetar como você experimenta o orgasmo. Há evidências de que a quimioterapia pode causar problemas de excitação, principalmente logo após o tratamento.

Aliás, alguns medicamentos antidepressivos podem reduzir o desejo sexual e dificultar o alcance do clímax.

Além do mais, a tensão e a ansiedade também podem reduzir sua capacidade de ficar excitada e atingir o orgasmo; portanto, você e seu parceiro podem querer explorar técnicas que os ajudem a relaxar.

Sexo e autoimagem

Muitas mulheres com câncer de mama também se vêem lidando com mudanças na aparência como resultado do tratamento. Algumas podem ser de curto prazo, como a queda de cabelo.

Mesmo assim, essas podem ter um efeito profundo sobre como a mulher se sente sobre si mesma, porque é um dos fatores que afetam diretamente a autoestima e a feminilidade de cada uma. 

Várias opções podem ajudá-las a lidar com a perda de cabelo, incluindo perucas, chapéus, lenços e outros acessórios. Além disso, como alternativa, algumas mulheres optam por usar sua calvície como uma maneira de se identificarem como sobreviventes de câncer de mama.

Aliás, outras alterações são mais permanentes, como a perda parcial ou total de uma mama (ou mamas) após a cirurgia. De fato, os seios são vistos como um símbolo de prazer e de beleza para muitas e lidar com a perda deles pode ser devastador.

Algumas mulheres optam por fazer uma cirurgia reconstrutiva para reconstruir o monte da mama. E outras optam por usar uma prótese ou uma forma da mama.

Tem gente que vai um pouco além e faz tatuagens como símbolo de superação. O fato é que há sempre uma maneira de lidar com essa fase, basta saber qual é a sua.

Abandono

Além de todas mudanças, algumas mulheres ainda precisam lidar com um fator desanimador: o abandono dos parceiros. Uma reportagem da CBN aponta que mais de 70% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama são abandonadas pelos maridos.

E isso não acontece apenas no Brasil.

Uma pesquisa realizada pelas universidades de Stanford e Utah e pelo Centro de Pesquisa Seatle Cancer Care Alliance, todos dos Estados Unidos, indicou que a mulher tem seis vezes mais chances de ser abandonada pelo marido após a descoberta de uma doença grave.

Infelizmente, muitos homens abandonam as mulheres por acreditarem que a doença é algo muito complicado para lidar. No entanto, há também vários casos de relacionamentos que saíram mais fortalecidos depois que o casal enfrentou junto o problema.

E mais: há ainda casos de mulheres que se redescobriram após o câncer de mama e conseguiram ser muito mais felizes que antes, com novas pessoas.

Dicas para melhorar a sexualidade no tratamento para câncer de mama

Se você está passando por esse problema, veja algumas dicas para melhorar a sexualidade durante o tratamento do câncer de mama!

Comunicação

Nem sempre é fácil falar sobre sexo durante um momento tão delicado, mas a comunicação com seu parceiro é muito importante. Encontre o ambiente certo para vocês falarem abertamente sobre como se sentem e o que pode funcionar durante a intimidade do casal.

Tente discutir o que mudou em seu relacionamento, o que é agradável, o que é desconfortável ou doloroso, onde você gostaria de ser tocada.

Olha, você pode ter sentimentos de tensão e se preocupar em sentir dor durante o sexo. Seu parceiro também pode estar ansioso ou com medo. Por isso, converse honestamente com ele sobre que tipo de atividade pode causar dor ou sensibilidade. Isso vai ajudar os dois a relaxarem.

Outras maneiras de intimidade

Primeiramente, a leitura conjunta de ficção erótica e a masturbação mútua (tocando-se intimamente) podem usar menos energia e evitar áreas dolorosas ou sensíveis do corpo.

Desse modo, explore novas maneiras de desfrutar da intimidade, incluindo: sexo sem penetração, sexo oral, brinquedos sexuais, abraços, beijos e massagens.

Posições diferentes

Tente experimentar diferentes posições sexuais até encontrar uma que seja mais confortável para você.

Assim sendo, pode ser uma posição que exerça menos pressão sobre o peito, como deitados lado a lado ou em uma posição de “colheres” (com o parceiro deitado atrás de você).

Use o lubrificante certo

Ter secura vaginal e irritação, que resulta em relações sexuais dolorosas é uma queixa comum em mulheres que tiveram câncer, particularmente naquelas que fazem tratamentos hormonais.

Por isso, é importante usar um bom lubrificante sexual, especialmente se você não conseguir usar produtos tópicos de estrogênio vaginal.

Caso você esteja usando preservativos, precisará evitar lubrificantes à base de óleo, pois eles podem quebrar o preservativo, beleza?

Afinal, eles tem a função de ajudar a prevenir o atrito e a dor durante o sexo e a intimidade, mas também podem ser usados ​​de maneira mais geral para aliviar a secura e o desconforto.

Brinquedos

Os brinquedos sexuais não são apenas uma ótima maneira de explorar novas sensações sexuais, mas também podem ajudar com problemas de saúde sexual.

Com toda a certeza, muitas mulheres acham que, devido ao tratamento, levam mais tempo para chegar ao orgasmo, ou então sofrem a diminuição da libido. Por isso, usar um simples vibrador no clitóris durante as preliminares é uma ótima ideia. O acessório também pode ser usado em um momento individual. 

Inclusive, saiba que os vibradores podem até ajudar com o aperto vaginal que algumas mulheres experimentam como resultado do tratamento.

O uso de um vibrador fino ou dilatadores vaginais pode ajudar a esticar os tecidos da vagina e melhorar a flexibilidade e a circulação.

Mova-se

De fato, a fadiga é um grande problema para as pessoas com câncer.

Por isso, se você se sentir fisicamente esgotada à noite, tente fazer sexo pela manhã ou durante o dia. O sexo rápido, inclusive, pode ser divertido e reduzir sua fadiga. E, embora pareça contraditório, aumentando lentamente a quantidade de atividade física que você faz, você pode ter mais energia para o sexo!

Se puder, faça exercícios regularmente. Isso pode diminuir os efeitos colaterais físicos e psicológicos do tratamento, o que por sua vez melhora a imagem corporal e o humor.

Descubra novas zonas eróticas

Antes de tudo, se seus seios eram grandes zonas erógenas para você antes da cirurgia, você pode estar se sentindo particularmente desolada após uma mastectomia.

Uma solução é ir descobrindo outras áreas do seu corpo, em vez de insistir nas áreas em que você ainda tem problemas de sensibilidade ou de imagem corporal.

Por isso, para algumas mulheres, a diminuição da excitação em áreas de tecido mamário ou nas áreas com cicatriz pode servir como um lembrete doloroso de que sua vida sexual mudou.

Em vez disso, pense em áreas como ombros, orelhas e joelhos, como novas zonas eróticas.

Hidratantes vaginais 

Estes não são lubrificantes, que devem ser usados ​​durante o sexo. Em vez disso, são como os hidratantes que você usa no rosto e nas mãos, para beneficiar os próprios tecidos.

Assim, eles são introduzidos como supositórios na vagina, adicionando umidade de volta ao espaço vaginal e dando essa elasticidade natural.

Mas cuidado, ele deve ser absorvido e ajuda a vagina a ter mais saúde e umidade por vários dias.

Exercícios de Kegel

Sob o mesmo ponto de vista, os exercícios clássicos de Kegel – que é basicamente apertar e liberar o músculo esfincteriano, como você faz quando urina – que tantas mulheres usam durante a gravidez também são ótimos para facilitar a relação sexual.

Caso o sexo tiver sido doloroso, você pode contrair-se antecipando a dor. Se você pratica Kegels antes da intimidade, cansa os músculos vaginais e fica “mais aberta”.

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Conselhos adicionais

  • Encontre um bom profissional de saúde que possa fornecer conselhos e tratamento para lidar com os efeitos colaterais sexuais do câncer de mama;
  • Se os problemas sexuais persistirem, consulte um terapeuta sexual para avaliação e tratamento;
  • Encontre informações confiáveis ​​sobre os efeitos colaterais do tratamento do câncer de mama;
  • Aceite a ajuda e o suporte de sua família e amigos para fornecer intervalos para seu parceiro;
  • Comunique-se com com a pessoa que está ao seu lado sobre seus medos e inseguranças, e procure apoio emocional;
  • Encontre tempo para participar de atividades que você gostava antes do diagnóstico;
  • Mantenha contato não-sexual, abraços e brincadeiras com seu parceiro.

Peça ajuda

Enfim, o Outubro Rosa chama a atenção para um problema grave e lembra que todas as mulheres precisam de ajuda.

Por isso, não se feche e procure alguém que possa te auxiliar.

Mesmo se você estiver tendo problemas para se ajustar após um diagnóstico de câncer de mama, um médico ou um grupo de apoio pode ser útil e essa é a grande intenção do outubro rosa.

Lembre-se: sua vida sexual não acabou por causa dessa doença. Inegavelmente você pode fazer o tratamento sem deixar de lado a intimidade com o seu parceiro.

Você é forte e pode ser feliz enquanto batalha pela recuperação!

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.