Às vezes eu paro e me pergunto como eu estarei daqui a alguns anos, se eu darei conta de fazer aquilo que me proponho a fazer, e como farei para chegar até lá. Mas, neste processo, é inevitável olhar para trás e entender tudo que já me aconteceu, e como o processo de desconstrução da minha autoestima baixa me guiou até aqui.

Quando estou bloqueada em algum projeto ou pensando na solução para um problema, sabe o que eu gosto de fazer? Voltar uma etapa.

Quando faço isso é como se tivesse uma visão mais ampla das coisas, assim eu consigo perceber e entender quais devem ser os meus passos seguintes.

O mesmo acontece com a autoestima baixa.

Foi só quando eu decidi recuar, olhar para dentro, e para o meu histórico em relação a isso, que finalmente consegui compreender os sentimentos de inadequação que tinha ao meu próprio respeito.

Dessa forma, para sabermos o que levou nossa autoestima ao nível que ela está hoje, precisamos voltar um pouco no tempo e lembrar de experiências durante a infância e adolescência.

Isso mesmo! Esses períodos são fundamentais para entendermos nossa autoestima atual, e porque ela é uma autoestima baixa.

Um estudo da Universidade de Washington revelou que, a partir dos 5 anos de idade, a criança já consegue expressar aquilo que sente sobre si mesma. E o conceito que ela tem de quem é se forma a partir dos valores transmitidos pelos pais e outras figuras de referência, como avós e professores.

Como foram suas primeiras experiências?

No Reino Unido, 50 instituições voltadas para a promoção do bem-estar na infância e adolescência se uniram para realizar uma grande pesquisa sobre autoestima. Os envolvidos descobriram que sentimentos como autodepreciação e diminuição da felicidade surgem por volta dos 11 anos.

Ou seja, uma mulher adulta por volta dos 35 anos, dependendo de como foram essas primeiras experiências dela, já lida com 24 anos de uma autoestima baixa e frágil. 

E olha, esta pesquisa britânica também concluiu que meninas estão mais sujeitas a esses problemas do que os garotos, especialmente por causa da aparência física e de como são percebidas tanto pelas outras garotas quanto pelos meninos.

Esses dois estudos que eu citei nos levam a pensar sobre como as primeiras experiências têm peso para a formação da nossa autoestima quando adultas.

Uma infância turbulenta, com conflitos familiares constantes e pais emocionalmente ausentes são coisas que com certeza vão refletir na nossa autoestima baixa mais tarde.

Veja bem, é mais do que lógico deduzir que a criança vai reproduzir por boa parte da sua vida toda a negatividade à qual ficou exposta, e isso vai acontecer em forma de crenças e valores.

Se a vida dela for marcada por rejeições, negligências, críticas e punições, ela provavelmente irá se tornar uma pessoa insegura, descrente da própria capacidade, que não se considera digna de amor e respeito.

Além de tudo isso, ainda tem a fase da adolescência que é cruel, principalmente para nós, mulheres. Mesmo quem vem de uma família mais estruturada, com uma rede de suporte emocional, está sujeita a sofrer com os conflitos da adolescência.  

Até porque, é a partir desse momento que nos damos conta de questões mais complexas, como corpo e relacionamentos afetivos.

O que te trouxe até aqui?

Agora, junte tudo isso à rebeldia típica da idade e ao fato da adolescência ser um caldeirão de experiências, hormônios e descobertas; e leve em consideração como por mais maravilhoso que esse período seja, é nele que, na maioria dos casos, acontecem os traumas que vão nos marcar por longos anos.

Quando reflito sobre minha história, percebo que a maneira como fui criada e as vivências da adolescência foram determinantes para que não me sentisse bem comigo mesma por um longo tempo.

Eu já compartilhei com você como minha família era extremamente conservadora e eu não tive abertura para conversar sobre diversos assuntos que são importantes na nossa formação, como sexo e relacionamentos. Autoestima, então, foi algo que eu só ouvi falar depois de adulta. Depois de adulta descobri que tinha uma autoestima baixa.

Vale deixar claro que aqui não estou querendo arrumar culpados ou dizer que nossos pais erraram, eles fizeram o melhor seguindo o que também aprenderam dos seus pais. Mas se sabemos que isso é passado de geração para geração, podemos quebrar esse ciclo agora que você tem mais clareza.

Passar pelo exercício de entender e respeitar a minha história foi fundamental para eu fazer as pazes com a minha autoestima. E o processo exigiu que eu puxasse pela memória a origem daqueles sentimentos ruins que construí ao meu respeito.

O que eu sugiro a você agora é que reflita sobre sua história, porque quando fizer isso as memórias virão à tona. Dessa forma, as lembranças que você guarda até hoje e não sabe que guarda estarão expostas à luz, e assim você tem controle sobre elas para que elas não te atrapalhem mais.

Muitas decisões que tomamos na vida adulta nada mais são do que reflexos das experiências que tivemos enquanto crianças e adolescentes.

Seu subconsciente sabe de tudo mesmo?

Em uma família com muitos filhos, por exemplo, é comum que haja competição entre irmãos; que um sinta que recebe menos atenção que o outro; ou que os pais fiquem impacientes com frequência e falem coisas como “você só me dá trabalho”, “você não faz nada direito”, “por que você não é como sua irmã?”, “você nasceu por acidente” e mais coisas do tipo.

Estas palavras ficam marcadas na nossa memória, e mesmo que a gente não consiga perceber, elas agem sorrateiramente no nosso inconsciente.

Durante a fase adulta, se a pessoa ouve repetidamente algo parecido dentro de um relacionamento amoroso ou no ambiente de trabalho, ela imediatamente retorna aos sentimentos de inferioridade que costumava experimentar na infância.

Mas a criança e o adolescente que habitam em você não podem comandar indefinidamente suas atitudes e emoções, senão você vai continuar se desvalorizando e desmerecendo.

E como você vai se libertar dessas influências? Você tem uma foto sua de infância? Se tiver, é algo que vai ajudar bastante no que eu quero propor.

Caso não tenha, faça o máximo de esforço para se imaginar quando criança.

Após esse passo, pense no que a mulher que você é hoje diria para a criança que você já foi. Formule realmente um diálogo na sua cabeça.

Quando já tiver uma imagem bem nítida, escreva uma carta para o seu eu criança.

Escolha palavras incentivadoras, tudo o que você gostaria de ter escutado de alguém na época, peça desculpas pelo que ela passou e explique o que você tem feito para compensar qualquer coisa que a tenha magoado. E perdoe quem te magoou.

Olhar para si é um resgate 

Também não esqueça de falar para a sua criança interior que você a ama e que tudo vai ficar bem.

Guarde esta carta com carinho. Você não precisa ler repetidas vezes, só tenha certeza de que ela está em um lugar seguro, protegida de tudo, porque você tem esse poder – se você se sentir segura de fazer isso, claro.

Este exercício tem muita força. Se você esvaziar seu coração de qualquer mágoa e ressentimento e escrever a carta apenas com compaixão e gratidão, todos os frutos que você irá colher deste ato irão contribuir positivamente para a sua autoestima, hoje, baixa.

A partir do momento em que eu compreendi que olhar para mim mesma era a única forma de me resgatar enquanto mulher, passei a trabalhar todos os aspectos da minha vida que eram impactados por uma baixa autoestima.

Neste processo, eu me dei conta de que há três campos nos quais a autoestima exerce um maior efeito: físico, social e afetivo. Como os aprendizados recentes apenas reforçaram essa minha percepção, eu simplesmente precisei compartilhar com vocês.

Campo físico, social e efetivo 

No campo físico da autoestima, principalmente da baixa, estão as questões relacionadas à imagem corporal, principalmente. É nessa área que as preocupações da mulher com a aparência vão surgir com mais intensidade.

No entanto, algo que a gente não entende é que a construção de uma autoestima saudável depende de escolhas muito individuais.

Já a baixa autoestima física irá te deixar retraída, tímida, inibida, indecisa, hesitante e tudo isso vai repercutir no seu desempenho profissional e no trato com os colegas. Ao tentar ser aceita, você dificilmente vai dizer não para as pessoas, sempre no intuito de compensar de alguma forma o fato de você não se achar interessante.

Já a autoestima baixa na área afetiva se manifesta na preocupação com os sentimentos dos outros e à falta de atenção em como você se sente diante das situações.

Eu espero que você tenha gostado desse texto, eu te falo muito mais sobre os campos físico, social e afetivo no meu curso Mulheres Bem Resolvidas. Lá eu aprofundo muito mais todas essas questões, por isso te convido a fazer parte das mais de 100 mil alunas que eu tenho.

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.