É de fato complicado entender por que é tão difícil manter um relacionamento. Se vocês querem saber, na verdade, esse é um dos questionamentos que mais recebo enquanto especialista em sexualidade e relacionamento.

O grande problema é que as pessoas acreditam que o amor sozinho é suficiente para fazer a relação dar certo, e principalmente, que o amor vai fazer ele durar anos e anos em perfeitas condições.

Mas, os casais descobrem depois de algum tempo que as coisas são bem mais complicadas do que parecem e ficam então se perguntando por que é tão difícil manter um relacionamento, e por que é tão difícil estar nele.

Existem elementos que também são necessários para fazer essa relação não se tornar um projeto que deu errado.

Neste texto, eu vou te falar sobre estes elementos, e te mostrar o caminho a seguir.

Por que no começo é tudo tão lindo?

Pense comigo: no início, tudo parece ser tão fácil, nada de brigas, frustrações ou desapontamentos, apenas esperança, sonhos e desejos. Não é mesmo? O casal enxerga o mundo com o filtro da paixão e as coisas parecem estar no seu devido lugar.

Contudo, quando o fogo da paixão começa a diminuir, o filtro pelo qual passamos a ver as coisas é o da “vida real”. Daí aparecem os pequenos incômodos, o que costumava ser “engraçadinho” já não nos faz rir tanto assim, as nossas expectativas não se concretizam, os defeitos do outro ficam mais aparentes e pronto! 

Já faz um tempo que eu costumo dar a mesma resposta para essa pergunta, que é a seguinte: não é o amor que sustenta o relacionamento, é o jeito de se relacionar que sustenta o amor.

Se você passar a fase da paixão, em que o mundo é cor de rosa, só aproveitando a companhia um do outro, evitando discussões necessárias, evitando conflitos que servem para ajudar uma situação a melhorar, o relacionamento depois da paixão vai ser muito difícil de ser mantifo.

Se vocês deixar as coisas acontecerem naturalmente, perdemos a oportunidade de construir os alicerces que vão nos manter juntos a longo prazo: atenção, confiança, respeito e comunicação.

Você vai ter que investir seu tempo em algo que você tenha a intenção de fazer funcionar. Seu trabalho é assim, a criação dos seus filhos também, sua relação com sua família e por aí vai. 

Com os relacionamentos amorosos, não seria diferente. 

Para qualquer relacionamento ter sucesso, mesmo sem ser amoroso, a gente precisa se esforçar, investir energia, tempo, disposição. Agora imagine o quanto disso tudo é necessário para ter uma vida estável ao lado de alguém por um longo período.

Estabeleçam regras

Por mais parecidas que duas pessoas sejam em termos de objetivos e propósitos – fator crucial para que o casal prospere, diga-se de passagem -, é praticamente impossível haver uma convivência pacífica sem a existência de regras. E as coisas são assim no amor também.

Estamos falando de dois seres humanos complexos, cheios de defeitos, com personalidades e histórias de vida distintas. É de se esperar que os conflitos surjam.

Por essa razão, eu gosto de reforçar a ideia de que nós precisamos aprender a amar; precisamos entender que o triunfo da relação depende da nossa postura, das nossas escolhas, da maneira como vamos conduzir o relacionamento.

Como conduzir um relacionamento?

A primeira coisa é deixar de lado a crença de uma cara-metade, de um conto de fadas, de alguém que nasceu exclusivamente para nos completar. Eu sei que esse sentimento é bem forte no auge da paixão, e é legal curtir o momento, claro.

A psicoterapeuta Esther Perel, referência mundial na área de relacionamento e sexualidade, explica muito bem essa ideia.

Ela diz que a pessoa com quem escolhemos dividir a nossa vida não tem nada a ver com a ideia de uma alma gêmea, de que existe alguém perdido no mundo que está destinado a ser o seu amor para sempre. 

Veja bem, é uma escolha. E devemos fazê-la de forma consciente. Se acharmos que o universo vai mandar o “parceiro perfeito” de presente para nós, estamos dizendo que não queremos nos responsabilizar pela nossa própria felicidade. 

Nada sobre relacionamentos é simples, então dá trabalho mesmo ser feliz com quem se ama. Porque, mais uma vez, não depende só do amor.

É por esse motivo que a relação deve ser encarada como uma chance de crescimento, aprendizado e transformação ao lado de quem vai nos apoiar e receber o nosso apoio. É por isso que às vezes você se pergunta por que é tão difícil manter um relacionamento.

Olha o tanto de coisa que nós precisamos saber: gerenciar crises, compartilhar a intimidade, aprender a ter expectativas mais realistas, não deixar que influências externas prejudiquem a conexão com o parceiro, encontrar soluções que sejam positivas para os dois enquanto casal e indivíduos. 

Você consegue perceber que não tem nada a ver com colocar um sapatinho de cristal e viver feliz para sempre, não é mesmo?

Por que você deve tomar cuidado com a paixão?

E com isso, voltamos à paixão!

É, sem dúvidas, delicioso estar apaixonado, mas se o nosso foco é um relacionamento promissor, há muito mais a ser descoberto, aprendido e exercitado. 

A paixão é passageira, o amor duradouro.

Tudo isso pode parecer um tanto complexo, talvez nem combine tanto com aquela visão idealizada de relacionamentos que a maioria das pessoas tem. Mas é assim que uma relação madura e saudável funciona, com o casal tendo plena noção dos desafios da vida a dois.

O motivo de por que é tão difícil manter um relacionamento pode ser a idealização da paixão. Você não irá ficar apaixonado para sempre, porque esse é um sentimento que acaba.

Entender todos esses detalhes vai te proporcionar atribuir um novo significado ao amor e às relações amorosas.

Você está pronta para aprender a amar?

Saiba qual a principal origem de conflitos

Você tem alguma ideia de qual é a principal origem dos conflitos nos relacionamentos amorosos?

Se você pensou em mal-entendidos acertou em cheio.

Desde coisas irrelevantes, como “eu achei que você tinha dito azul ao invés de verde”, até suposições problemáticas como desconfiar de uma traição baseada apenas no achismo, os mal-entendidos são uma fonte interminável de transtorno para as relações.

Dentre todos os problemas que esses causadores de estresse criam, o mais grave deles talvez seja a sensação de que a pessoa ao seu lado não está realmente prestando atenção em você. E o que isso gera? Frustração, sentimento de desvalorização, de que não se é estimado ou apreciado.

Com tantas insatisfações assim, não é surpresa quando o relacionamento chega ao fim.

Mas quais são exatamente os comportamentos do casal que geram toda essa discórdia? Eu identifiquei os três principais. Saiba agora por que é tão difícil manter um relacionamento.

Leitura de mentes

O primeiro deles é a leitura de mentes, um poder místico que adquirimos assim que entramos em um relacionamento. Eu aposto que você exercita bastante essa habilidade.

Brincadeiras à parte, a leitura de mentes é um péssimo hábito que as pessoas insistem em reproduzir em seus relacionamentos, achando que são capazes de adivinhar o que o outro está pensando e sentindo ou que ele tem obrigação de saber o que você pensa e sente.

Acontece assim: o seu parceiro chega em casa um pouco depois do horário de costume e com uma cara de poucos amigos. Você tenta puxar conversa e ele só dá respostas vazias. Você continua insistindo e, de repente, ele responde com rispidez.

É nessa hora que você ativa o modo leitura de mentes e deduz que ele está bravo especificamente com você, lembrando até da discussão que tiveram semana passada por causa da tampa do vaso. 

E não termina por aí: você faz suposições tão absurdas e, no final das contas, chega à conclusão de que ele está pensando em te deixar por outra pessoa.

Olha que loucura: a partir de uma cara fechada e uma série de equívocos no comportamento, a pessoa sai de uma cara fechada para a traição.

E só há uma maneira de evitar tudo isso: tendo paciência e parando de agir com base em achismos.

Seu companheiro está de cara fechada e não quer conversar? Dê espaço, respeite o momento dele. Quando as coisas estiverem mais calmas, abra um canal de comunicação. Converse, pergunte, tire suas dúvidas sem partir para qualquer acusação, apenas ouvindo o que ele tem a dizer.

Evite leitura de mentes. Saber controlar esse impulso é uma das lições mais valiosas que podemos aprender, pois irá nos poupar de uma infinidade de conflitos.

Não considerar a percepção que o parceiro tem dos fatos

Outro motivo campeão em causar problemas e mal-entendidos é focar apenas no próprio ponto de vista.

Uma situação acontece, a mulher interpreta de uma forma e o homem de outra. Como cada um tem certeza de que a sua percepção é a correta, não conseguem chegar a um consenso para amenizar as divergências.

Além disso, tem outro fator agravante: a confiança ferrenha na “boa memória”. Daí um diz que aconteceu assim, o outro diz que não, e a briga dura uma eternidade.

O mais frustrante de tudo é que, provavelmente, os dois estão certos (ou até mesmo errados), porque a memória e a percepção são subjetivas. As coisas das quais lembramos e o que percebemos são apenas recortes da realidade, e não uma versão absoluta dos fatos.

E independentemente de tudo isso, não importa quem se lembra de mais detalhes ou qual ponto de vista deve prevalecer. O importante é o casal conseguir chegar a um acordo. Não deixe que seu ego fale mais alto, porque é difícil manter um relacionamento, mas você precisa se esforçar.

Não dar o braço a torcer ou ser orgulhosa

O terceiro, e talvez mais destrutivos dos desentendimentos, é não abrir mão de estar sempre certa.

Algumas pessoas fazem questão de continuar uma briga apenas para provar que estão com a razão. Elas ficam tão obcecadas em estarem sempre certas de que desprezam completamente como o outro está se sentindo em relação à situação como um todo.

Quem age assim não está disposto a argumentar, porque nenhum outro argumento é válido senão o próprio. Quando fechamos a porta para o diálogo, simplesmente descartamos a necessidade do parceiro de também ser ouvido e entendido.

Você consegue imaginar o tamanho dos prejuízos que essa postura causa ao relacionamento?

A minha sugestão em relação a isso é realmente fazer uma autorreflexão: vale mesmo a pena agir assim? Não seria melhor, talvez, “deixar para lá” e preservar a harmonia do casal? Você quer ser feliz ou ter razão?

Aprender a relevar algumas coisas é uma habilidade que todas as pessoas têm que desenvolver se desejam partilhar a vida com mais alguém. “Perder” uma batalha ou outra não vai te diminuir no relacionamento. Vai, sim, mostrar como você é uma pessoa tolerante e madura, que está colocando os interesses e o bem-estar da união como prioridade em vez de querer alimentar o próprio ego.

Espero que você tenha entendido o por que é tão difícil manter um relacionamento.

Se você gostou deste texto, saiba que eu falo muito mais sobre isso no meu curso Mulheres Bem Resolvidas, nele eu ensino às minhas alunas não somente a ter autoestima e autoconhecimento, mas também como lidar com relacionamentos e sexualidade. 

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.