O Kamasutra é uma cultura milenar. As diferentes posições sexuais foram replicadas durante séculos — por isso, o livro é reeditado até hoje! Mas, acredite: ele não se resume apenas a sexo. Kamasutra fala sobre relacionamentos saudáveis e troca de energia — como ocorre no sexo, claro, mas não apenas nele.

Neste post, vou te explicar o que é Kamasutra e por que ele não se resume apenas a posições sexuais. Vamos lá?

Afinal, o que é Kamasutra?

Conhecido no Oriente como Kamasutram, o Kamasutra é um texto escrito pelo filósofo indiano Vatsyayana. O documento fala sobre o comportamento sexual humano — daí a sua extensa e famosa lista de posições sexuais, por volta de 529. Seu nome, em sânscrito, significa “dissertação sobre o amor”.

Apesar de ter quase 2 mil anos, o Kamasutra só ficou conhecido no Ocidente a partir do século XIX, especificamente em 1883, quando o escritor, linguista e antropólogo inglês Sir Richard Francis Burton fez a primeira tradução do sânscrito para a língua inglesa.

Segundo Vatsyayana, existem oito formas de praticar sexo — cada uma delas pode ser aproveitada com oito posições. Existem as mais fáceis, outras requerem prática, mas algumas são tão mirabolantes que eu nem tenho coragem de tentar. Ui!

Mas ao contrário do que a maioria imagina, o livro não fala apenas do ato sexual. Ao contrário:  ele fala sobre padrões de comportamento. 

Por que o Kamasutra não é apenas sexo?

O Kamasutra é o escrito mais antigo a abordar sexualidade e erotismo, além de ser um dos livros mais antigos do mundo. No entanto, ele não se resume a isso: seu objetivo era promover um relacionamento saudável entre os pares e usar a energia sexual de maneira construtiva. O problema é que até os estudiosos se apegavam (e ainda se apegam) demais ao lado sexual e físico, o que acaba deturpando e reduzindo as escrituras a um manual de posições.

Vamos saber mais sobre esse escrito tão importante para a história da humanidade? Confira algumas curiosidades:

Há igualdade entre mulheres e homens

A noção patriarcal faz com que, muitas vezes, pensemos que o homem deve dominar o sexo o tempo inteiro. No entanto, o Kamasutra já descrevia posições (asanaas) em que a mulher participava ativa e igualitariamente. A escritura incita a proatividade feminina como forma de paridade no prazer da relação.

Somente com a contribuição igualitária no relacionamento é que o sexo será gratificante. Não há posição que seja exclusivamente para o prazer do homem ou da mulher.

O papel da mulher muito além da submissão

Além de falar sobre o prazer para os dois, o Kamasutra também defendia que as mulheres casadas tivessem a responsabilidade primária sobre as finanças da casa.  Elas também deveriam deixar os maridos que não as tratassem bem e não limitasse o sexo à produção de bebês.

Existem diversas artes de amar

Segundo Vatsyayana, existem 64 artes de de agrado — beijos, abraços, carícias e demais formas que vão desde jogar adivinhações até aprender a falar com os papagaios. Mas voltando ao amor que conhecemos: os beijos podem ser reproduzidos de até 40 maneiras. 

Outro detalhe importante é que, para o autor, não deveriam existir momentos ou lugares especiais para carícias, arranhões e mordidas.

Vatsyayana era celibatário (e, provavelmente, virgem)

Outra curiosidade muito interessante é que, pelo que se sabe na tradição indiana, Vatsyayana era um estudante celibatário (talvez por isso ele tenha registrado tantas posições impossíveis, não é verdade?).

Acredita-se que tenha nascido em Bihar, na Índia no século IV a.C.. Mas viveu em Pataliputra, cidade antiga que também era um importante centro de aprendizagem. Seu interesse era de registrar o comportamento sexual  humano como meio de atingir a espiritualidade 

A Kamasutra faz parte do Kamashastra — na literatura indiana, é uma tradição de textos relacionados ao desejo/amor (kama), que vai do amor ao lado sexual.  A mitologia hindu acredita que homem atinge sua plenitude quando pratica:

  • o dharma (virtude religiosa);
  • o artha (riqueza mundana);
  • o kama (o amor). 

O homem não deve pensar apenas em sexo

Vatsyayana relatava que verdadeiramente culto e preocupado com a vida (tanto no aspecto moral quanto no material) não deveria se tornar um indivíduo maníaco por sexo, e sim procurar por um relacionamento saudável.

Ambiente limpo influencia na vida sexual

Sabe aquela história de casal jovem que aproveita qualquer espacinho para fazer sexo? Segundo Vatsyayana, não é bem assim que funciona. Nada de transar em cima daquele sofá cheio de roupas jogadas ou daquela cama com a caixa de pizza da semana passada. Bora faxinar!

Sim: além de posições sexuais, o Kamasutra tem dicas de como arrumar a casa. Vatsyayana acreditava em arrumar o ambiente para que todos os seus espaços se tornassem favoráveis ao sexo. Além disso, os deuses favoreceriam o ato feito em um bom ambiente.

Prazer independe da forma física

As várias técnicas descritas no Kamasutra tornam o sexo prazeroso para qualquer pessoa, independentemente de seu peso e tipo físico. Para Vatsyayana, é melhor não misturar problemas com a imagem corporal e prazer.

Por isso, é importante que você trabalhe a visão que tem sobre seu próprio corpo. Você pode fazer o melhor com ele, desde que pare de ter expectativas irrealistas, como ter o corpo de uma modelo ou digital influencer fitness, que são pagas para viver na academia. Aceitação é a palavra. 

O Kamasutra dá muita importância ao toque — e ele independe da sua forma física.

Mas você deve vestir-se para impressionar o parceiro

Repare que as escrituras são ilustradas, tanto que mostram como fazer cada posição impossível. No entanto, a gente se impressiona tanto com as piruetas sexuais que não repara em um detalhe bem importante no Kamasutra: quase todos os personagens ilustrados estão com adereços, incluindo os homens.

É comum que, com o passar dos anos, um parceiro pare de se arrumar para o outro. O comodismo por não precisar mais ter trabalho para conquistar o outro faz com que a gente use a desculpa do “conforto” para deixar de colocar aquela roupa mais arrumada, o cabelo penteado ou um batom mais sedutor ou uma barba aparada. Aí é que está o problema.

Aparência é importante — e não estou falando de forma física, hein? Assim como você se esforça para se vestir para o trabalho ou uma festa importante, é essencial estar minimamente apresentável para seu parceiro. Estar sempre com o visual desleixado passa a impressão de que seu parceiro não é mais importante. E se ele faz isso com você, é bom dar aquela cobrada.

O toque é fundamental

Você já reparou que, também com o passar do tempo, os casais param de se tocar? Muitas vezes, dão um selinho muito do sem-graça, mas o abraço, o carinho e as mãos dadas já fazem parte do passado.

O mais importante aqui é que o tocar não deve se limitar ao sexo. Cada forma de toque desperta uma sensação única no parceiro. Um abraço e carinho despretensiosos não precisam levar ao sexo, mas demonstram muito sobre suas emoções — mais do que o ato sexual em si. Esses gestos, segundo Vatsyayana, fazem muito mais pelo relacionamento do que a maioria das outras coisas.

Já no sexo, o toque vai desde as preliminares (que podem durar horas!) até o ato em si. 

Sexo é diversão

Aqui no MBR eu sempre te falo sobre a importância de tentar técnicas novas, um brinquedinho ali, um vibrador acolá. O importante é sair da monotonia, daquele papai-mamãe sem mecanizado, de um sexo feito apenas para cumprir tabela. E não é que o Kamasutra concorda comigo?

Sexo é diversão! Portanto, experimente tudo aquilo que desejar fazer com seu parceiro (e que ele também queira fazer, claro). 

Aprenda também a se divertir com seu parceiro além do sexo. Viagem juntos, assistam a filmes e séries, façam alguma atividade física ou curso, enfim, encontrem afinidades. Quando a diversão se torna algo fácil, a alegria vai se estender a outros aspectos do relacionamento.

Sexo é consentimento

Quando existe confiança mútua, não há problema algum em praticar o Ayantritarata, o sexo com mais pessoas, sem limites. Mas para que isso aconteça, o casal deve estabelecer um acordo.

Seus conselhos vão além do relacionamento (mesmo)

O Kamasutra também oferece conselhos sobre maneiras de ganhar dinheiro e renovar a amizade com um ex-amante. Então, minha amiga, se está difícil de sair do SPC ou se sua relação com o ex poderia ser tema do programa Casos de Família, está na hora de ler os conselhos de Vatsyayana!

Apesar das 529 posições, elas só fazem parte de 20% do escrito. O restante fala de boas maneiras e cidadania, de como se portar corretamente na sociedade. Resumidamente, é um manual de etiqueta feito para os nobres da época. 

Para você ter uma ideia, os escritos falavam até da higiene do homem: ele deveria tomar banho uma vez por dia, fazer uma massagem a cada dois, ensaboar-se a cada três, depilar o pênis e as axilas a cada dez e perfurmar-se sem restrições.

Pronta para tirar um tempinho do seu dia e começar a leitura do Kamasutra? E nada de ficar apenas olhando as ilustrações das posições sexuais, hein?

Gostou do post? Para mais dicas sobre vida sexual, comportamento e saúde, continue acompanhando o MBR!

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.