Um tema que ganhou notoriedade nos últimos anos é a identidade sexual. Ele já foi pauta de discussão no governo, na TV, além de ser uma bandeira de vários grupos minoritários. A verdade é que o assunto ainda sofre uma resistência muito grande por parte da sociedade, quer seja por desconhecimento ou até mesmo por convicções pessoais. Mas ele está aí para ser debatido e precisamos começar a entender um pouco mais sobre toda essa questão. No entanto, você sabe o que é identidade de gênero? O tema é bastante amplo, mas hoje eu trouxe informações que podem ajudar a compreender um pouco mais sobre o assunto. Vamos lá?

Vamos abordar os seguintes tópicos:

  • O que é identidade de gênero?
  • Sexo biológico x gênero
  • Tipos de identidade de gênero
  • Disforia de gênero ou Transtorno de Identidade de gênero
  • Identidade de gênero na TV e no cinema
  • Acima de tudo, o respeito

O que é identidade de gênero?

Identidade de gênero é o conceito que uma pessoa tem de si mesma  como um ser sexual e os sentimentos que isso implica; se relaciona com a forma como vive e sente o próprio corpo desde a experiência pessoal e como ela leva  isso para o público, ou seja,  para outras pessoas. É a maneira individual e interna de viver o gênero, que pode ou não corresponder ao sexo que nasceram. É a percepção íntima que uma pessoa tem de si como sendo do gênero masculino, feminino ou de alguma combinação dos dois, independente do sexo biológico. Podemos dizer que é o sentimento que a pessoa tem sobre ela mesma, como ela se descreve e deseja ser reconhecida.

A questão da identidade de gênero  desarma a visão binomial do sexo, ou seja, que o gênero se restringe apenas ao feminino e masculino,  para assim aceitar outros tipos de identidade sexual como, por exemplo, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.

Sexo biológico x gênero

Para entender melhor a questão da identidade de gênero, é necessário compreender alguns conceitos sobre gênero, sexo biológico e orientação sexual.

São eles:

Sexo Biológico

O sexo biológico se refere às diferenças biológicas entre o homem e a mulher. É a soma de elementos como cromossomos, órgãos sexuais , glândulas, morfologia, hormônios sexuais, ou seja, tudo que distingue macho e fêmea.

O sexo biológico se manifesta de três formas :

  • Sexo Feminino: Pessoa que nasce com cromossomos XX e aparelho reprodutor feminino (ovário e genital feminina)
  • Sexo Masculino: Pessoa que nasceu com os cromossomos XY e tem aparelho reprodutor masculino.
  • Intersexual: Antes conhecido como hermafrodita, é uma combinação de ambos os sexos. Trata-se de uma condição natural onde uma pessoa apresenta uma discrepância entre seu sexo cromossômico (XX/XY) e seus órgãos genitais (ovários e testículos), apresentando  características de ambos os sexos.

Orientação Sexual

Orientação sexual é atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa manifesta em relação à outra, para quem se direciona, involuntariamente, o seu desejo. As orientaçõe sexuais mais conhecidas são:

  • Heterossexual:  Pessoa que sente atração física, emocional e sexual por pessoas do sexo/gênero oposto;
  • Homossexual: Pessoa que sente atração física, emocional e sexual por pessoas do mesmo sexo. São os gays e as lésbicas;
  • Bissexual: Pessoas que sentem  atração física, emocional e sexual por pessoas de ambos os sexos.

Gênero

Enquanto o sexo é biológico, o gênero é social. Ele vai além do sexo. Nesse caso, não importa os cromossomos ou os genitais, mas a autopercepção e a forma como a pessoa se expressa socialmente. A biologia divide os humanos entre macho e fêmea, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é expressa pela cultura. Podemos dizer que homens e mulheres são produtos da realidade social e não da decorrência direta da anatomia de seus corpos.

identidade de gênero

Papel de gênero

Sabe aquela velha história “meninas gostam de rosas e meninos gostam de azul”? Ou “menina tem que brincar de boneca e menino tem que brincar de carrinho”? Isso é o que chamamos de papel de gênero, ou seja, é o comportamento social e cultural determinado que são esperados de homens e mulheres. Esses comportamentos não são naturais, ou seja, não nascem com a pessoa, por isso, varia de acordo com o lugar e os costumes da sociedade. Isso quer dizer que ser do gênero feminino ou do gênero masculino tem muito mais a ver com a cultura do que a biologia.

Todos nós somos um conjunto de características de gêneros femininos e masculinos, por isso uma menina pode gostar de jogar futebol e não ser lésbica, da mesma forma que um menino pode gostar de balé e não ser gay.

Tipos de identidade de gênero

Transgênero

São pessoas que não se identificam, em graus diferentes, com comportamentos, com os papéis esperados do seu sexo biológico. Elas transitam entre os gêneros, englobando travestis, transexuais, crossdressers, drag queens/kings e outros/as. Há quem utilize esse termo para se referir apenas àquelas pessoas que não são nem travestis e nem transexuais, mas que vivenciam os papéis de gênero de maneira não convencional.

Transexual

É a pessoa que cujo gênero não corresponde ao seu sexo biológico, que não se sente identificada com o seu próprio corpo. Por exemplo, uma pessoa com órgãos sexuais masculinos sente que é uma mulher no corpo de um homem ou alguém com órgãos sexuais femininos sente que é um homem preso no corpo de uma mulher.

O termo transexual não é usado de forma isolada , pois soa ofensivo para algumas pessoas. Por isso é sempre aconselhável referir- se à pessoa como mulher transexual ou como homem transexual, de acordo com o gênero com o qual ela se identifica.

Homens e mulheres transexuais podem manifestar a necessidade de realizar modificações corporais por meio de terapias hormonais e intervenções médico-cirúrgicas, com o intuito de adequar seus atributos físicos (inclusive genitais – cirurgia de redesignação sexual)à sua identidade de gênero.

Ser transgênero ou transexual não tem relação direta com a orientação sexual, por isso o transgênero pode ser heterossexual, homossexual ou bissexual. Se uma mulher trans  gostar de outra mulher, ela é lésbica, e se for mulher trans e gostar de homem, é heterossexual. Já se o homens trans gostarem de outros homens, ele é gay e se gostarem de uma mulher, é hétero.

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Travesti

É provavelmente a identidade de gênero mais marginalizada. A pessoa nasce  com o sexo masculino mas vivencia o papel de gênero feminino. No entanto, ela não se reconhece como homem ou mulher, entendendo-se como integrante de um terceiro gênero ou de um não-gênero. Muitas travestis modificam seus corpos por meio de terapias hormonais, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, mas, em geral, não desejam realizar a cirurgia de redesignação sexual. As travestis possuem identidade de gênero feminina, por isso devemos sempre nos referirmos a elas no feminino, ou seja “a travesti”.

Devido ao preconceito, muitas travestis não conseguem empregos e acabam recorrendo a prostituição. Porém, há muitos exemplos de travestis com bons empregos e ensino superior.

Crossdresser

Pessoa que frequentemente se veste, usa acessórios e/ou se maquia diferentemente do que é socialmente estabelecido para o seu gênero. Ela não realiza modificações corporais e não chega a estruturar uma identidade transexual ou travesti.

Drag Queen/King ou Transformista

Homem ou mulher que se veste com roupas extravagantes do sexo oposto para a apresentação em shows e eventos, de forma artística, caricata, performática e/ou profissional.

Disforia de gênero ou Transtorno de Identidade de gênero

Disforia de gênero é o termo utilizado para referir-se à inadequação entre a própria identidade de gênero e ao sexo biológico. As pessoas que sofrem de disforia de gênero percebem seu próprio corpo como algo estranho, que não lhes pertence, porque é do sexo oposto que deveria ser. Essa insatisfação atinge um grau que pode variar muito. Para algumas pessoas, a  disforia de gênero é pouco mais do que um incômodo, já para outras é  uma profunda insatisfação. Nem todas as pessoas transexuais experimentam este fenômeno psicológico.

As pessoas com disforia podem ter complicações como depressão, angústia emocional, sensação de isolamento e baixa autoestima. O tratamento inicial para a disforia é a psicoterapia, para que seja possível fazer um diagnóstico correto e descartar outras patologias e para que o paciente possa lidar com a inadequação.

No entanto, algumas pessoas querem mudar a aparência física, de acordo com o gênero que elas sentem que pertencem. Nesses casos é feito um tratamento com bloqueadores de puberdade, hormônios e por fim, cirurgia de redesignação do sexo.

Identidade de gênero na TV e no cinema

Se você ficou curiosa sobre o tema, alguns filmes e novelas abordam de forma bem interessante e didática essa questão de identidade de gênero. São eles:

A força do querer: na novela de Glória Perez, Ivana , interpretada pela atriz Carol  Duarte, é uma jovem criada pela mãe para celebrar tudo o que remete ao feminino. Porém, como a menina percebe ao longo da vida, não é assim que ela se identifica. Ela se vê como homem e, durante a novela, passa por um processo de mudança de gênero.

A Garota Dinamarquesa: baseado na história real da artista dinamarquesa Lili Elbe (Eddie Redmayne), nascida Einar Wegener, é pioneira na cirurgia de mudança de sexo. O filme narra a sua emocionante trajetória, sua descoberta como mulher e seu casamento com a também pintora Gerda Wegener (Alicia Vikander).

Tomboy: Laure (Zoé Héran) é uma garota de 10 anos, que vive com os pais e a irmã caçula, Jeanne (Malonn Lévana). A família se mudou há pouco tempo e, com isso, não conhece os vizinhos. Um dia Laure resolve ir à rua e conhece Lisa (Jeanne Disson), que a confunde com um menino. Laure, que usa cabelo curto e gosta de vestir roupas masculinas, aceita a confusão e lhe diz que seu nome é Mickaël. A partir de então ela leva uma vida dupla, já que seus pais não sabem de sua falsa identidade.

Laurence Anyways: Laurence (Melvil Poupaud) é um homem que deseja se tornar uma mulher. Em seu aniversário de 30 anos, ele revela para sua namorada Fred (Suzanne Clément) que irá fazer uma cirurgia de mudança de sexo. Mesmo abalada com a revelação, a namorada resolve permanecer ao lado da pessoa que ama, que sofrerá bastante com a nova situação, tendo que lidar com preconceitos de familiares, amigos e colegas de trabalho. Contra tudo, eles tentarão provar que o amor deles pode superar todas as situações.

XXY: Alex (Inés Efron) nasceu com ambas as características sexuais. Tentando fugir dos médicos que desejam corrigir a ambiguidade genital da criança, seus pais a levam para um vilarejo no Uruguai. Eles estão convencidos de que uma cirurgia desse tipo seria uma violência ao corpo de Alex e, com isso, vivem isolados numa casa nas dunas. Até que, um dia, a família recebe a visita de um casal de amigos, que leva consigo o filho adolescente. É quando Alex, que está com 15 anos, e o jovem, de 16, sentem-se atraídos um pelo outro.

Meninos não choram: Baseado na história real de Teena Brandon (Hilary Swank), o longa relata a juventude de um garoto que nasce com o corpo socializado como feminino mas identifica-se com o gênero masculino. O filme retrata sua trajetória enquanto homem transgênero e os embates que vive diante da sociedade.

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Acima de tudo, o respeito

Todos nós somos a combinação do sexo biológico, identidade e expressão de gênero e orientação sexual. São características independentes que, juntas, nos definem. Independente dos nossos credos e convicções, devemos respeitar a escolha do outro e lutar contra toda a forma de discriminação e preconceito.Reconhecer e respeitar  as diferenças é extremamente importante para construir uma sociedade mais tolerante e abrangente. Afinal,  todas as pessoas devem expressar plenamente sua sexualidade e identidade para se tornarem pessoas completas e felizes.

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Super beijo!

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.