O ciúmes é um sentimento que aparece em maior ou menor grau em todos os relacionamentos. Ele tem sua origem no medo de perder a pessoa que amamos. Podemos dizer que na maior parte das vezes é normal. No entanto, quando o ciúmes é desproporcional, aparece constantemente ou é infundado, podemos estar lidando com um ciúmes obsessivo. Esse tipo de ciúmes obsessivo está mais relacionado à necessidade de controle e desconfiança do que de amor. Veja os principais sinais de um ciumento obsessivo e o que fazer para contornar essa situação.

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No texto de hoje vamos falar sobre os seguintes tópicos:

  • O que é o ciúmes obsessivo?
  • Ciúmes saudáveis x ciúmes patológicos
  • Características
  • O ciúmes obsessivo, segundo a ciência
  • Síndrome de Otelo
  • Sintomas do ciúmes obsessivo
  • Quais são as causas do ciúmes obsessivo?
  • As conseqüências do ciúmes doentio
  • Tratamento
  • Controlando o ciúmes
  • Se você for vítima de um ciumento obsessivo
  • Se você for uma ciumenta obsessiva
  • Não se engane, é uma doença

O que é o ciúmes obsessivo?

Todo mundo já ficou com ciúmes em algum momento de sua vida, mas quando isso se torna patológico, fora de controle, temos um problema real que pode ser considerado um transtorno obsessivo. Nestes casos, o pensamento sobre uma possível infidelidade  por parte do parceiro se torna recorrente, invade totalmente a mente da pessoa ciumenta e ela passa a viver com um contínuo sofrimento e dúvida.

O ciúmes obsessivo cria uma espiral destrutiva no relacionamento que leva à sua deterioração e, em muitos casos, ao rompimento. O problema é que a pessoa ciumenta desenvolve uma visão distorcida da realidade e um comportamento obsessivo. Ela dedica muito de seus esforços e tempo para procurar evidências de possíveis enganos, rejeitando qualquer argumento racional que prove o contrário. Desta forma, o comportamento do ciumento acaba provocando o que ele mais teme: a perda da pessoa que ama.

Ciúmes saudáveis x ciúmes patológicos

Os ciúmes saudáveis ​​são aqueles em que a preocupação ou medo de perder a pessoa amada não nos faz perder nossa capacidade de raciocinar. Podemos sentir alguma preocupação, mas isso não faz perder a nossa mente ou nos leva a tirar conclusões irracionais ou até mesmo imaginar situações inexistentes. A pessoa que sente ciúmes saudável quer que seu parceiro fique ao seu lado, mas não tentará controlá-lo. Além disso, esse ciúmes não causa desconforto no parceiro nem afeta seriamente o relacionamento.

No entanto, o ciúmes patológico vai um passo além, a tal ponto que pode ser classificado como um distúrbio. Esse tipo de ciúmes é infundado e pode obcecar a pessoa que sofre, tornando-se o centro em torno do qual seu mundo gira. Como resultado, eles têm um impacto negativo em seu comportamento e geram hostilidade, autopiedade e profunda insegurança.

Características

O ciúmes quando obsessivo tem como característica fundamental a dúvida permanente e é baseado em suposições (na maioria das vezes absurdas, raciocínio ilógicos) e nenhuma evidência, porque se existissem elementos de prova deixaria de ser patológico. Como exemplo, poderíamos falar sobre o marido que sofre e faz sua esposa sofrer pelo simples fato de que ela se maquia ao sair de casa. O marido questiona o motivo da maquiagem: “Se ela não está usando maquiagem em casa, por que ela deveria fazer quando sai de casa? Os outros não devem importar, só eu tenho que ser o mais importante para ela. Pelo visto não é assim, porque se eu fosse o mais importante, ela não estaria se enfeitando toda vez que saísse de casa…”. Esses pensamentos são absurdos, irracionais e sem lógica.

A pessoa que experimenta ciúmes obsessivo chega a exigir que seu parceiro não se envolva emocionalmente com ninguém, nem mesmo com seus amigos. Para evitar que isso aconteça, ele se dedica a observar cada um dos movimentos do parceiro até mesmo impondo regras absurdas. Essa pressão constante acaba se tornando uma bomba-relógio para o relacionamento porque a outra pessoa se sente presa e sufocada.

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O ciúmes obsessivo, segundo a ciência

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 2002), o Transtorno Delirante Paranóico do tipo ciumento é o delírio centrado na convicção, sem motivo justo ou evidente, de que está sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico. A crença é injustificada e se baseia em inferências incorretas sustentadas por pequenas “evidências” (por exemplo, manchas nas roupas) as quais são acumuladas e utilizadas para a justificativa do delírio. O sujeito pode tomar medidas extremas para evitar a suposta infidelidade. Nos delírios, o indivíduo “descobre-se” traído pelo parceiro de forma cruel, acusando-o de manter relações íntimas com outras pessoas.

Síndrome de Otelo

O ciúmes patológico ou obsessivo também é conhecido como “Síndrome de Otelo”, nome inspirado no conto de Shakespeare que se passa na Itália do século XV. O livro narra a história de um general que se convence da infidelidade da esposa. Otelo, o personagem principal da trama, sofre de um ciúme tão intenso que o leva a matar sua esposa Desdêmona.

O ciúmes pode ser influenciado por qualquer coisa, por mínima que seja. Também pode ser influenciado por outras pessoas, assim como Otelo por Yaco na peça de Shakespeare, ou mesmo pela mídia. Tudo o que pode confirmar sua crença será importante.

Sintomas do ciúmes obsessivo

A pessoa que sofre com o ciúmes obsessivo nem sempre está ciente de seu problema, geralmente pensa que suas atitudes são normais. No entanto, o primeiro passo para superar a doença é reconhecer sua existência. Veja aqui alguns dos principais sintomas:

  • Medo excessivo de perder a pessoa amada, a ponto de se sentir mal
  • Pensamentos de traição
  • Analisa meticulosamente o comportamento do parceiro procurando sinais que confirmem uma possível infidelidade
  • Violação de privacidade como por exemplo, olhar para as mensagens ou e-mails do celular sem permissão
  • Controlar em excesso o dia a dia do parceiro
  • Ódio dos amigos e colegas do parceiro
  • Ciúmes sem base real, baseado em situações imaginárias ou conclusões tiradas de pequenos detalhes
  • O ciúmes afeta a vida do ciumento a ponto de não poder dormir ou sofrer quando a pessoa amada não está ao lado
  • O pensamento de uma possível infidelidade ou abandono impede que viva plenamente
  • Busca de pistas que revelem uma possível traição
  • Ligações e mensagens frequentes para descobrir o que o outro está fazendo. Quando não responde, imagina que está traindo com outra pessoa
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Quais são as causas do ciúme obsessivo?

As causas do ciúme patológico variam de uma pessoa para outra, embora em sua base geralmente seja uma grande insegurança, baixa autoestima e falta de autoconfiança. A pessoa não acredita que é digna de amor, portanto, qualquer detalhe, um olhar ou um atraso, é suficiente para inflamar o ciúme.

Em muitos casos, essa insegurança pode remontar à infância, geralmente devido a pais que estavam emocionalmente ausentes e que não atendiam às necessidades de proteção e afeto da criança. Em outros casos, a insegurança pode ser causada por uma experiência traumática ou humilhação experimentada em um relacionamento anterior.

Personalidade

Também há casos em que, por trás do ciúme patológico, há certas características de personalidade, como a necessidade de ter controle e a tendência de exagerar na realidade. São pessoas com uma grande capacidade de fazer uma tempestade em um copo de água. Elas também tendem a ter poucas habilidades sociais, então acham que se o seu parceiro os deixar, eles não poderão ser felizes ou encontrar outra pessoa que os ame. Na verdade, o ciúme de um casal geralmente esconde dependência emocional.

Na base do ciúme doentio também estão certas crenças, como pensar que o relacionamento é uma possessão e, portanto, só pode demonstrar amor por ele. Em outros casos, o ciúme esconde uma preocupação obsessiva com a imagem social. A pessoa acredita que, se o parceiro o trai, ele será motivo de chacota. Para evitar essa situação, desenvolve uma atitude de controle.

As consequências do ciúme doentio

Quando o ciúme é irracional, torna-se uma patologia. A pessoa vive perseguida por seus medos, inseguranças e suspeitas. A ideia de que seu parceiro pode enganá-la ou deixá-la coloca em um estado de vigilância, em busca de sinais que confirmem seus piores medos. Os ciumentos têm medos e crenças sobre a infidelidade sexual de seu parceiro. Essas crenças são psicóticas e não baseadas na razão. Essas pessoas vão acusar, espionar, investigar, perseguir e ameaçar, a fim de impedir o que acreditam estar acontecendo.

Embora os parceiros possam inicialmente tentar apaziguar o indivíduo ciumento ao tranquilizar, discutir, explicar ou mesmo restringir suas próprias atividades, isso se torna cada vez mais difícil, já que o ciúme é cada vez menos racional.

Quando se torna perigoso

Um parceiro ciumento pode começar a acusar o seu parceiro de dormir com outras pessoas e pode enviar e-mails ou cartas para amigos, familiares ou empregadores que façam acusações explícitas, com detalhes constrangedores e humilhantes.

Infelizmente, o comportamento irracional pode não parar com e-mails e cartas. Esses indivíduos podem se tornar perigosos porque acreditam em suas acusações com convicção absoluta e estão além da razão. Ameaças e atos de violência podem ocorrer.

Normalmente, esse comportamento levará ao fim do relacionamento, bem como ordens de restrição e outras tentativas de impedir o crescente assédio. Nos piores cenários, pode acabar em violência, pois os indivíduos psicóticos podem prejudicar ou matar aqueles que acreditam estar agindo contra eles. Em suas mentes, isso seria homicídio justificável.

Tratamento

É essencial procurar ajuda profissional, não apenas para salvar o relacionamento, mas para superar definitivamente a desordem. Mesmo que no futuro um novo relacionamento comece, o problema ainda estará lá.

Quem sofre desse tipo de problema geralmente não procura ajuda psiquiátrica porque não tem a percepção de que suas crenças e comportamentos não são racionais. Se ele vai para o tratamento, geralmente é involuntário.

Para obter ajuda com o ciúme patológico, é essencial entrar em contato com um psicólogo, um psiquiatra ou até mesmo um sexólogo. Em alguns casos, uma terapia que inclua ambos os membros do casal pode oferecer grandes benefícios. Um profissional de saúde poderá fazer uma avaliação completa para determinar as causas e, assim, indicar o melhor tratamento.

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Controlando o ciúme

Chega um ponto em que o controle obsessivo é insuportável para a outra pessoa, de modo que o ciúme acaba prejudicando irremediavelmente o relacionamento. A sensação de ser observado e controlado faz com que, mais cedo ou mais tarde, o parceiro mude de comportamento e seja menos carinhoso e afetuoso, afastando-se primeiro emocionalmente e depois fisicamente. A falta de confiança destrói qualquer possibilidade de diálogo e sufoca a outra pessoa.

Se você for vítima de um ciumento obsessivo

Se você se encontrar em um relacionamento com alguém que é irracionalmente ciumento, é melhor pensar bem se vale a pena. Também é extremamente importante avaliar seu perigo potencial e tomar medidas para se proteger.

Evite dar as explicações sobre tudo o que você faz, não permita que o seu parceiro comande a sua vida. Quando você dá a ele o controle, está alimentando as crenças e imaginações e contribuindo para que elas se tornem reais para ele.

Se você for uma ciumenta obsessiva

Não obedecer aos pensamentos ciumentos: deixar-se levar pela euforia do momento é o estopim que aciona toda a lista de atitudes “loucas” que uma pessoa pode fazer. Se algum pensamento negativo cruzar sua mente, pare e não aja se você não tiver 100% de certeza.

Confesse

Direta e indiretamente, discuta o assunto com seu parceiro. Não vale a pena admitir para si mesmo se você continuar a negar aos outros. Revele seus verdadeiros sentimentos e converse sobre o que está te angustiando: o que esperar de seu parceiro, os planos para o futuro próximo e distante. Isso fará com que você se sinta mais confiante sobre o que pode acontecer e seus sentimentos.

Extravase sua ansiedade através de outras atividades

Ciúme é também um sinal de estresse, ansiedade e atividade. Use essa energia para fazer as coisas que você gosta, praticar um novo hobby, manter-se ocupado e trabalhar para sua projeção como pessoa, tanto no profissional quanto no trabalho.

Estabeleça limites

Reconheça junto com seu namorado/marido quais são as coisas que o incomodam e se tantas objeções realmente têm justificativa. Depois de determinar os limites, esteja aberta ao que ele lhe pede.

Não peça explicações desnecessárias e pare de questioná-los por tudo que fazem. Compartilhe, fale sobre o seu dia, mas não peça cada detalhe para saber um pouco mais.

Pedir um tempo

Não tenha medo desta palavra. Um tempo separado não significa acabar para sempre o relacionamento. Estar sozinho não apenas refresca o relacionamento, ele permite que você analise as consequências de suas ações e veja se você exagerou ou não em certas situações.

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Não se engane, ciume obsessivo é uma doença.

Não seu engane, o ciúme obsessivo é uma doença. Para erradicar o ciúme obsessivo, o primeiro passo  é simples simples: aceitar que sofre de tal desordem. Não use desculpas como “meu sexto sentido não falha” ou o popular “é melhor prevenir do que remediar”. Somente quando você ou seu parceiro estiverem cientes do problema serão capazes de resolver seus conflitos internos e  trazer a harmonia de volta ao seu relacionamento.

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.